Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Distrito Federal foi o que mais diminuiu o trabalho infantil doméstico no país. Entre 2008 e 2011, houve redução de 73% dos casos. No entanto, não ocorreu uma mudança de perfil dos afetados: adolescentes negras são 100% do grupo.
Elas são moradoras da área urbana da capital federal e têm entre 16 e 17 anos. As jovens estão na idade de cursarem os dois últimos anos do ensino médio, ciclo com maior taxa de evasão escolar. Esse também é o padrão do trabalho infantil doméstico em todo o Brasil. As meninas são mais de 93% dos que estão nessa condição. Dessas, 67% são negras.
Em entrevista ao Portal Andi, o pedagogo Coracy Coelho lembra que persiste o hábito de trazer jovens de regiões mais pobres para trabalhar em residências. O representante do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil no Distrito Federal conta que “elas chegam achando que vão encontrar uma nova família, que terão oportunidade de estudar”, mas acabam “sofrendo violações de direitos”.
Já a advogada Luana Natielle destaca que o fato de as mães atuarem como domésticas por muitos anos em uma casa faz com que, posteriormente, a filha ou a neta passem a ser a empregadas da mesma família. Ela avalia que essa situação faz das meninas “sujeitos economicamente ativos”, mas muitas vezes inseridas “em uma relação de trabalho defeituosa e problemática”.
Luana afirma que os dados sobre trabalho infantil doméstico são a representação de “um legado cultural escravocrata, machista e patriarcal”. Para a assessora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), isso acaba estabelecendo como papel das mulheres, sobretudo o das negras, a responsabilidade pelos afazeres de casa. (pulsar)
Correção: trabalho infantil é aquele realizado por menores de 10 anos.
A palavra infantil se refere a crianças e não a adolescentes.
Obrigada, Aline.