Em pleno século XXI, frases como “Se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros”; “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas” ou “Em briga de marido e mulher não se mete a colher” são parcial ou totalmente aceitas pela maioria dos brasileiros. A conclusão, divulgada na última quinta-feira (27), faz parte de uma pesquisa sobre tolerância social à violência contra mulheres realizada com 3.810 pessoas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Segundo o estudo, pelo menos um terço dos brasileiros aceita ideias como a de que a mulher casada deve satisfazer o marido sexualmente, mesmo sem vontade, ou que casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os integrantes da família.
No discurso, o brasileiro tende a condenar veementemente a violência, física ou psicológica, mas ainda tem dificuldades em dissociar essa violência de um conjunto de normas socialmente aceitas. Essa dificuldade se revela sobretudo quando o tema é a violência sexual. De acordo com os pesquisadores, a diferença de postura de tolerância ou intolerância à violência doméstica e à violência sexual reafirma a dificuldade de se estabelecer uma agenda de direitos sexuais no Brasil.
Ainda segundo o estudo, a culpabilização da mulher pela violência sexual fica evidente quando, por exemplo, 58% dos entrevistados dizem concordar “totalmente” com a afirmação de que ela só é vítima de agressão sexual por não se comportar de maneira adequada. (pulsar/carta capital)