As baianas do acarajé continuarão mobilizadas mesmo após a liberação nesta quarta-feira (25) da venda do tradicional acarajé na Arena Fonte Nova em Salvador. Apesar da permissão, exigências para a venda descaracterizam práticas tradicionais de preparação do alimento.
A liberação foi feita após o encontro entre representantes da administração do estádio, da Associação das Baianas de Acarajé e Mingau (ABAM) e das secretarias estaduais do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) e da Copa (Secopa)
A polêmica surgiu em outubro de 2012, quando a Federação Internacional de Futebol (Fifa) anunciou a proibição da venda acarajé dentro e no entorno do novo estádio reformado para a Copa de 2014. A entidade se baseia nas regras incorporadas à Lei Geral da Copa. A norma exige que a comercialização de alimentos nos estádios e arredores seja feita apenas pela empresa vencedora de uma licitação da Fifa.
Com a mobilizações organizadas pelas baianas e movimentos sociais, ressaltando que o acarajé é um patrimônio cultural e material da humanidade, foi garantido o direito de vender o alimento do lado de fora do estádio durante a Copa das Confederações, que aconteceram em junho de 2013. No entanto, foram estipuladas exigências como a redução do número de vendedoras e a padronização dos equipamentos e tabuleiros.
Para a coordenadora do Instituto Odara, Valdecir Nascimento, que acompanha as ações da Associação das Baianas de Acarajé e Mingau (ABAM) “os principais prejudicados são famílias que vão deixar de receber dinheiro e não poderão continuar dando seguimento a educação de seus filhos”.
Valdecir ainda assinalou a importância de reconhecer que “a cidade tem um padrão cultural e uma forma de se relacionar que deveria ser respeitada” por autoridades responsáveis pela infra-estrutura dos jogos. Ela coordenou o “Seminário Copa 2014: O que as mulheres têm a ver com isso?” que aconteceu entre os dias 20 e 23 de setembro em Salvador para debater as formas como as mulheres, principalmente as negras, são impactadas pelos megaeventos esportivos.
Dentre os temas discutidos no evento, estavam o processo de “higienização” a que as cidades são submetidas, afetando principalmente, negros, mulheres homossexuais, moradores de rua. Essas ações, segundo Valdecir, tem o intuito de “maquiar a cidade para os turistas”.
Audios:
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Valdecir Nascimento, do Instituto Odara :
Sobre o que significa a proibição da venda dos acarajés no estádios
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Valdecir fala sobre o processo de "higienização" comum aos megaeventos:
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