O final da manifestação no Rio de Janeiro, na noite desta quinta-feira (20), foi marcado por uma desproporcional repressão do Batalhão de Choque. Balas de borracha, bombas de efeito moral e grandes carros blindados, conhecidos como Caveirões, ameaçaram os que foram às ruas. Alguns agentes também usaram armas de fogo.
Por volta das 19h, quando o protesto se aproximava da prefeitura, Centro da cidade, a iluminação pública caiu. Em meio ao breu, que o braço armado do Estado se voltou contra os que protestavam. O barulho das bombas era alto e trazia terror. Pouco depois, a iluminação foi restabelecida, mas o efeito do gás já sufocava os manifestantes.
Alguns não conseguiam abrir os olhos ou mesmo falar. Solidariamente, outros compartilhavam uma mistura de água e vinagre, e guiavam os que passavam mal. Crianças, jovens, adultos e idosos foram afetados. As bombas iam ao céu e se repartiam em três, caindo a muitos metros e em diferentes pontos da Avenida Presidente Vargas. Até mesmo um ônibus cheio de passageiros, que passava por um viaduto bem perto da Marquês da Sapucaí, foi atingido.
Desesperadas, as pessoas começavam a correr. Imediatamente, por causa do perigo de pisoteamento, outras gritavam “não corre, não corre!”. A investida da polícia militar não parava e a revolta de alguns, que já tinham feito fogueiras e respondido com paus e pedras, cresceu. Quando o alvo foi o Terreirão do Samba, onde são realizadas festas e transmissões dos jogos da Copa das Confederações, houve aplausos de alguns que estavam do lado oposto da larga via.
Muitas pessoas, principalmente jovens, começaram a quebrar agências bancárias, fachadas de prédios, placas de sinalização, lixeiras, câmeras de segurança. Na altura de uma biblioteca pública, ainda em construção, um grupo se uniu e clamou contra o quebra-quebra. Curiosamente, os mais exaltados respeitaram o pedido e partiram para outros alvos, como pardais de trânsito, lojas e lanchonetes de fast-food.
Ruas estreitas, laterais à Avenida Presidente Vargas, foram tomadas por tropas, o que impediu o livre escoamento das pessoas. O cheiro de gás se sentia ao longe, dificultando ainda mais a volta para casa. O gás foi tanto que entrou nos prédios, chegando inclusive a andares altos do Hospital Souza Aguiar. No cruzamento com a Rio Branco, outra importante via da capital fluminense, pessoas que andavam com seus cartazes e ainda gritavam reivindicações, foram surpreendidas por um Caveirão na contramão e mais bombas.
Nesse momento, já depois das 21h, foram ouvidos disparos de som diferente. Alertas como “é arma de fogo”, “é tiro de verdade” e “É o Bope!”, a famosa Tropa de Elite, despertaram uma correria tamanha que, dessa vez, não pôde ser controlada. Depois, era possível ver gotas de sangue pelas calçadas. No Rio de Janeiro, dados oficiais apontam que pelos menos 60 ficaram feridos. Episódios de repressão também ocorreram nas Praças XV, Mauá e da Bandeira, nos arredores do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), da UFRJ, onde estudantes se refugiavam, e nos bairros Lapa e Glória.
Algumas estações do Metrô Rio ficaram fechadas e apenas reabriram perto da meia-noite. Pessoas com medo buscavam abrigo em bares e portarias. A violência chegou até Laranjeiras, já na Zona Sul da cidade, onde um grupo de manifestantes tentava chegar ao Palácio Guanabara, sede do governo estadual de Sérgio Cabral (PMDB).
As ações da polícia não pareciam tentar dispersar ou acalmar os ânimos, mas sim provocar as multidões. Por vezes, pessoas desconfiavam de agentes infiltrados, os P2, entre os que começavam as depredações. Ainda durante o dia, antes de a polícia militar cometer estes atos de violência, agentes distribuíram panfletos que diziam: “Paz. Ajude-nos a proteger você”. (pulsar)
Audios:
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Declarações de manifestantes que foram oprimidos pela polícia militar.:
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